quinta-feira, 27 de julho de 2017

Casamento de Maria Stein (filha de Nicolau e Anna Maria Stein)

Outras informações no registro de Alberto Backes e Maria Stein
de Brasil Casamentos
NomeAlberto Backes
Nome do cônjugeMaria Stein
Data do evento17 Jan 1893
Local do eventoSão Sebastião, São Sebastião Do Caí, Rio Grande Do Sul, Brazil
Nome do paiNicolau Backes
Nome da mãeCatharina Wecker
Nome do pai do cônjugeNicolau Stein
Nome da mãe do cônjugeAnna Maria Stein

Fonte - Family Search


Casamento de Agueda Stein

Registro de casamento de João Finger com Agueda Stein, filha de Mathias e Catharina Stein (Há controvérsia na grafia do nome, se seria Agueda ou Maria Aghata)


"Aos dez de setembro de mil novecentos e um na Capella de S. Luiz presentes Padre Jorge .."..e as testemunhas .....e José Ignacio Stein receberam-se em matrimônio João Finger e Agueda Stein, elle filho legítimo de Henrique Finger e Magdalena Ledur, ela filha legítima de Mathias Stein e Catharina Stein....(não consegui ler o restante)

Referência do registro   (Family Search)

Joao Finger

essa pessoa é mencionada no registro de Joao Finger e Agueda Stein.
NomeJoao Finger
Nome do cônjugeAgueda Stein
Data do evento10 Sep 1901
Local do eventoSão Sebastião, São Sebastião Do Caí, Rio Grande Do Sul, Brazil
Nome do paiHenrique Finger
Nome da mãeMagdalena Ledur
Nome do pai do cônjugeMathias Stein
Nome da mãe do cônjugeCatharina Stein


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Descendentes de: Rosa Stein

Descendentes de:
Rosa Stein (filha de Nicolau e Anna Maria Stein)

1. Rosa Stein   n. Jun 14 1883  -  m. Abr 4 1954
m.João Dresch
div.
m.Leopoldo Kehl   n. Jan 2 1894  -  m. Abr 2 1932
 
 
2. Flávio Inácio Kehl
 
 
 
 
m.Maria Thereza Rabello
 
 
 
 
 
 
3. THEREZA CHRISTINA Kehl
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Anibal André Kehl
 
 
 
 
 
 
div.
 
 
 
 
2. Kehl
 
 
 
 
m.(Desconhecido)
 
 
 
 
 
 
3. Vera Kehl
 
 
 
 
div.
m.(Desconhecido)
div.

Descendentes de: Maria Stein

Descendentes de:
Maria Stein (filha de Nicolau e Anna Maria Stein)

1. Maria Stein   n. Dez 1 1872
m.Jan 17 1893 Alberto Backes
 
 
2. Maria Josephina Backes   n. 1893
 
 
div. 1893

domingo, 23 de julho de 2017

Batismo de José Stein

X



  • Brasil, Rio Grande do Sul...greja Católica, 1738-1952 
  • São Sebastião do Caí 
  • São Sebastião 



  • Batismos 1879, Jul-1886, Jan

    • Imagem 36

    O local citado do nascimento chamado de Sepultura era uma das colônias criadas no Vale do Caí - Procurar em emancipação de São Leopoldo
    Sepultura é a atual Coqueiral e Roseiral no interior de Feliz. A capela fica em Picada Cará, também interior de Feliz. (informação do grupo genealogia-rs do Facebook para Nelson Wilbert Jr )

    Antepassados de Rosalina Fröhlich Stein

    Rosalina Fröhlich 1880-1949 (esposa de José Stein e nora de Nicolau Stein)

    Generation 2

    2 - João Fröhlich 1844-
    3 - Maria Lauermann 1849-

    Generation 3

    4 - Friedrich Fröhlich* 1815-
    5 - Anna Katharina Pappen* 1810-1888
    6 - Mathias Lauermann* 1823-
    7 - Rosina Mossmann 1825-1891

    Generation 4

    8 - Johann Fröhlich*, Ackerer 1776-1836
    9 - Maria Lauermann* 1782-
    10 - Georg Valfried Franzisco Pappen*, fr. Soldat ca 1775-
    11 - Maria Elisabeth Ebein* ca 1776-1852
    12 - Johann Lauermann*, Schneider 1787-
    13 - Magdalena Kreutzer 1793-/1827
    14 - Johann Jakob Mossmann* 1795-1881
    15 - Maria Gertrud Neumann* 1794-1876

    Generation 5

    16 - Johann Gerhardt Fröhlich, Ackerer 1752-1787
    17 - Anna Maria Bauer 1754-
    18 - Peter Lauermann, Schäfer 1749-1807
    19 - Margaretha Wirschem 1752-1822
    20 - Johann Franz Papin
    21 - Theresia Bremm
    24 => 18
    25 => 19
    26 - Peter Kreutzer, Küfer 1758-1813
    27 - Apollonia Zender 1759-1830
    28 - Johann Bartholomäus Mossmann 1756-/1815
    29 - Anna Margaretha Braun ?1760-/1815
    30 - Johann Peter Neumann 1767-1834
    31 - Anna Maria Weyrich 1764-1831

    Generation 6

    32 - Johann Michael Fröhlich, Hochgerichtsschreiber, Notar, Lehrer, Steuereinnehmer 1726-
    33 - Gertrud Hoffmann 1723-1787
    34 - Peter Bauer 1723-1787
    35 - Katharina Mayer 1738-1779
    36 - Nikolaus Lauermann, Hirte ca 1710-1783
    37 - Maria Meves ca 1725-1773
    38 - Johann Peter Wirschem 1721-1774
    39 - Maria Kirsch 1714-
    52 - Jakob Kreutzer, Küfer 1727-1810
    53 - Maria Thieser 1731-1785
    54 - Anton Zender, Kirchenschöffe ca 1718-1777
    55 - Anna Maria Schömer ca 1725-/1793
    56 - Johann Mathias Mossmann, Schultheiß
    57 - Maria Katharina N
    58 - Peter Braun
    59 - N N

    Generation 7

    64 - Johann Heinrich Fröhlich 1696-1750
    65 - Anna Maria Keller 1700-1753
    66 - Mathäus Hoffmann
    67 - Margaretha Schmidt
    68 - Jakob Bauer ?1700-1780
    69 - Maria Juliana Schmid †1732
    70 - Peter Mayer, Ackererbauer 1717
    71 - Katharina Jensen 1717-1740
    76 - Johann Wirschem, Schäfer ca 1678-1755
    77 - Apollonia Spengler ca 1685-1725/
    78 - Jakob Kirsch, Gerichtsschöffe ca 1685-1759
    79 - N N
    104 - Nikolaus Kreutzer 1692..1698-1752
    105 - Eva Schleser ca 1695-1741
    106 - Johann Thieser ca 1695-1753
    107 - Maria Becker ca 1700-
    108 - Lukas Zender, Schmied /1680-1748
    109 - Helena Rausch
    110 - Mathias Schömer ca 1698
    111 - Margarethe N

    Generation 8

    128 - Hanss Heinrich Fröhlich, Müller zu Oberndorf 1654
    129 - Johanna Margaretha N
    136 - Johann Adam Bauer, Müller ca 1675-1738
    137 - Barbara Recktenwald ca 1680-1741
    140 - Lorenz Mayer, Ackerer Fuhrmann ca 1680-1750
    141 - Anna Katharina Pfeiffer ca 1687-/1747
    142 - Mathias Jensen, Schafhirte, Wollweber, Ackerer, Kirchen- und Gemeindeschöffe ca 1680-1757
    143 - Anna Eva Sötern 1693-1773
    152 - Johann Jacob Wüschheim 1632/-
    153 - Agnes Kneip
    154 - Johann Bernard Spengler, Burggraf (Hofpächter) auf Baldeneck ca 1650
    155 - Veronika N
    208 - Johann Peter Kreutzer 1668-
    209 - Anna Katharina Jost ca 1672-
    216 - Michael Zender ca 1650-1724
    217 - Angela Festers

    Generation 9

    256 - Wentz Fröhlich
    257 - Anna Ursula N
    272 - Johann Jakob Bauer, Müller Ackerer ca 1640-1702
    273 - Anna Elisabeth Scholer ca 1640-1704
    280 - Hans Martin Mayer, Meier, Ackerer, Hochgerichtsschöffe zu Obersalbach ca 1656-1697..1703
    281 - Angelika Scherer ca 1660-1717/
    282 - Johann Ludwig Pfeiffer, Schuster, Wirt zu Reisweiler ca 1650-1742
    283 - Maria Barbara Saulnier ca 1660-/1715
    286 - Johannes Adam Sötern ca 1666-/1704
    287 - Gertrud Mayer 1667-1736
    304 - Jacob Wüschheim 1594
    305 - Anna Frey †1632
    306 - Johannes Kneip
    307 - Elisabeth Fritz
    416 - Jakob Kreutzer
    417 - Magdalena Theis ca 1650-
    418 - Jakob Jost 1645-
    419 - N N
    432 - N Zender
    433 - N N

    Generation 10

    512 - N Fröhlich
    513 - N N
    544 - Cles Scherer, Kirchenschöffe 1615-/1673
    545 - Katharina Bauer ca 1612-/1684
    546 - Peter Scholer, Bürgermeister Meier zu Diefflen ca 1605-1672/
    547 - N N
    560 - Johann Konrad Mayer, Ackerer, Lehrer, Meier zu Schwarzenholz ca 1635-1687/
    561 - Barbara Riegel ca 1638-1688/
    562 - Peter Scherer, Ackerer, Gerichtsschöffe zu Obersalbach ca 1620-1682..1684
    563 - Anna Brück ca 1625-1684/
    572 - Hans Jakob von Sötern, Leinenweber , Hofbauer, Gerichts- und Kirchenschöffe ca 1643-/1689
    573 - Katharina Krämer ca 1650-1731/
    574 => 560
    575 => 561
    608 - Nicolaus Wüschheim, Senator, Schöffe, Lohgerber zu Niedersburg †1632
    609 - Catharina Zarper †1629
    610 - Johannes Frey, Bürgermeister zu Boppard †
    611 - Margaretha Lottley †
    614 - Hans Fritz †
    615 - Anna N
    832 - Caspar Kreutzer, Hagenscher Kellner zu Wiesbach Wallerfangen und Reisweiler 1618-1696
    833 - Anna Bastian 1620-1676
    834 - Lorenz Theis 1620-
    835 - Johanna N
    836 - Jakob Jost 1622-
    837 - Engel N 1625-

    (Fonte: Livro dos Frolich) Obtido em um grupo de genealogia do Facebook

    Memórias de infância de Helena da Silva Stein

    MINHA INFÂNCIA 

    Helena da Silva Stein é filha de Bartholomeu e Doralice Stein e neta de Nicolau Stein
    "Lá Fora" Na frente Cláudio, atrás acho que Flávia, Doralice e Helena
     Meus pais moravam no interior. Capivari, nas “grotas” em bom português. De ano em ano íamos à capital. Eram passeios inesquecíveis. Os preparativos, a longa viagem. Nossa cidade distava uns bons três dias de viagem. Íamos nos mais variados meios, ora de carroça puxada a cavalos, num Ford último tipo ou de navio. Deste último jamais esqueço. Aquele rio enorme que mais parecia um mar. Eu nunca tinha visto o mar, mas imaginava. Era água demais e me amedrontava. Era um meio elegante de viajar e tínhamos que conservar nossa roupa, a única, em ordem até a chegada. Mas valia a pena. Como nos encantava a fileira enorme de carros nos cais. Sempre pensara que o Ford preto era o único... 

    A prancha de decida era o maior pavor da gente miúda. A água funda, suja, logo abaixo. Mas era bom. Diferente. Eu gostava.

    Meu pai adorava viajar. Andar, andar...Demorava pouco nos lugares. Nunca parava. Lembro seu cavalo Estrela, sempre pronto, encilhado com seu melhor arreio. E ele. Botas de cano alto, quilotes e jaqueta, chicote na mão. Parecia um cavaleiro nobre. Mas no fundo não era nada disso. Gostava mesmo de atender seus clientes. Levava remédios e, ás vezes, até operava. Era o Deus do lugarejo. Mas gostava mesmo de mudar, mudar...Com a enorme família procurava alguma coisa pela qual ansiava. Talvez a tenha encontrado em Capivari, pois lá ficou para sempre.

    Minha mãe acompanhava-o. Não gostava daquela vida de nômade. Sempre com mochila nas costas. Tinha um ar triste e eu nunca a compreendi. Talvez por ser criança demais.

    Nossa casa era alegre e cheia de gente. Às vezes meu pai trazia seus pacientes e transformava nossos quartos e salas em um pequeno hospital. Como era cheia de mistérios aquela sala de operações. Quando os pacientes iam embora, vinham outros. E assim decorriam nossas vidas.

    A sala de jantar, grande e muito limpa, tinha um aspecto respeitável. Só entravamos lá para fazer as refeições. As mãos bem, lavadas e nada de falar na mesa. Meu pai fazia nossos pratos com carinho. Feijão bem esmagadinho, arroz e verdura. Crianças tinham que comer verdura. Até hoje lembro o espinafre, descendo empurrado goela abaixo. Depois ele sentava. Gostava de um bom vinho e mesa farta. Tinha um ar bonachão. Comentava os assuntos do dia com nossa mãe e os mais velhos.

    Melhor, mais acolhedora era nossa cozinha. Pequena quentinha. Nas longas noites de inverno nosso pai lia para nós livros que guardo no fundo do coração. O que mais me emocionou foi um, de aventuras no Amazonas - “Ao longo do Amazonas”. A personagem feminina tinha o meu nome. Cada dia papai lia trechos emocionantes. Eu os vivi, um por um...

    Tinha coisas gostosas para se comer. A gente via sair, quentinhos, aqueles gostosos bolinhos com canela. Outra coisa que me fascinava eram os sacos de açúcar, empilhados na metade do quarto. Não era despensa não. Era quarto mesmo. E laranjas. Tantas que iam até o teto. Papai fazia, em grandes tonéis, um vinho especial de laranjas. Todos os anos enchia aqueles tonéis de vinho. Mamãe fazia tachadas de doces e geléias. O que eu mais gostava, não eram das gostosas geléias, mas do laranjal empilhado no fundo do quarto.

    De mulheres era a nossa família. Cinco garotas levadas e saudáveis. Lia, quinze anos, morena, sonhadora, não gostava de Capivari. Vivia dentro de sim mesma, a espera de um príncipe encantado que a levasse dali. Flávia, treze anos, inteligente, também morena, andava a catar livros. Toda a leitura a fazia realizada, mergulhada na sua grande vontade de ser alguém na vida. Uma médica como o pai. Maria Eugênia, onze anos, cabelos castanhos e ar de sabida, gostava de contar tudo para ganhar prestígio junto a papai. Tila, oito anos, brabinha, puxava os cabelos se alguém mexesse com o que era dela. Ótima dona de casa, queria tudo limpo e areado. Apesar de me socar de vez em quando, muito temos em comum. Os cabelos da Tila eram castanhos claros e eram claros os seus olhos. Depois vinha eu. Chamavam-me de Polaca. Era loiríssima e de pele clara. Diziam que era teimosa como uma gata. Era a caçula e mimosa da casa. Até que veio meu irmão. Não tive ciúmes dele. Nunca tive ciúmes de ninguém.

    Tinha eu quatro anos e só naquele momento percebi que era gente. E comecei a pensar. E a me dar conta da vida. Foi aí que começou de fato a minha vida.

    Nunca percebi que minha mãe esperava nenê. Não tinha a menor curiosidade de saber de onde eles vinham. Meu pai, habilmente, deu-me a grande nova:

    - “Filhinha, a cigana trouxe um irmãozinho para você”.

    Eu corri, não para ver a criança, queria ver era a cigana. Devia ser espetacular ver uma cigana em carne e osso. Falar com ela, ver a cesta aonde veio o garoto forte. Imaginava uma fada, como via nos livros de história. Com um vaporoso vestido azul...

    Sou grata a meu pai. Foi um momento maravilhoso e marcante na minha vida. Cláudio era um garoto forte e meu pai ficou todo feliz. Todos ficaram felizes. Desde então crescemos juntos, brincamos juntos. Brigávamos também. Ele gostava de me bater. Logo ficou mais forte que eu. As nossas brigas não duravam muito.

    Nossa infância foi curta para nossa constante curiosidade. Levantávamos cedinho e corríamos pelos campos a buscar flores, explorar as árvores atrás de ninhos de pássaros, olhar os filhotes ou ainda os ovinhos pequenos e recém postos. Quando chegava o inverno...Era o gelo cobrindo tudo. Como nos encantava. Os campos ficavam branquinhos da geada. E nós, pés descalços, íamos, sem sentir frio. Subir nas árvores e lá fazer a minha casa, bem alto. Ver o mundo de cima é bom. Havia um velho carvalho com frondosos galhos que era a minha árvore predileta. Gosto de altura. Morar alto, mas firme. Sentia-me dona do mundo e de mim mesma lá do alto de meu carvalho.

    Não tínhamos medo de nada. Mamãe gostava de caçar. E nós corríamos pelos matos, a descobrir sempre uma novidade que nos encantasse. Papai também nos levava a grandes e distantes lugares. Cada um diferente do outro. Com mata grande e cerrada ou imensas planícies, cobertas de rebanhos. Ia a família toda. Acampávamos por dias seguidos, caçando e explorando as montanhas, vendo o sol nascer e a lua surgir.

    Tínhamos um meio irmão, mulato bom, que o nosso pai criou. Francisco. Fazia de tudo. Era padeiro, carpinteiro, barbeiro. O pão do Francisco...Como tinha um gosto diferente. Sabor de coisa feita com carinho. Com o mesmo carinho com que nos tratava e fazia todas as nossas vontades. Francisco era nosso melhor amigo. Como tocava violão. Fazia com a turma longas serestas, com todos cantando a mesma canção.

    Nossa infância foi feliz. Francisco fez parte dela.

    Nas férias de dezembro a janeiro, fevereiro adentro, nossa casa era um burburinho. Acabava o hospital improvisado e os primos que moravam na capital enchiam a casa de alegria e tudo era motivo para a turma se divertir1. Papai gostava de gente. De casa cheia, de cantar, de ver todo mundo alegre, mas era severo na nossa educação. Severo demais. Ficávamos felizes quando, em suas poucas folgas, nos levava pelas matas e nos mostrava tudo. A fonte de água gelada, os guabijus caindo de maduros, os pássaros cantando e o regato com pedrinhas bem úmidas no leito. Era lindo. Outra coisa gostosa era o leite, cedinho, na mangueira. Tomávamos grandes copos espumantes. Para os mais preguiçosos era levado na cama. Depois vinha o café da manhã, naquela mesa grande, cheia de coisas gostosas. Francisco fazia um pão de milho que era uma delicia, num forno grande que, vez por outra, enchia de gostosas queijadinhas.

    Os amigos eram tantos. Lembro os mascates, gente simples e alegre. Que eram esperados com ansiedade. Suas malas pareciam mágicas, tanta coisa diferente tinha lá dentro. Nos contavam o que se passava no mundo, tão distante daquele lugar perdido. Tinha um, o Lua-Cheia. Apaixonou-se perdidamente por Flávia, assim que a viu pela primeira vez. A cara era redonda e cheia como uma lua. Boa pessoa, mas ignorante como ele só. As garotas faziam safadezas com o pobre. Escondiam-se embaixo da mesa para melhor rir e ele nem percebia, coitado. Certo dia puseram-lhe uma cadeira de pé quebrado. Foi aquele tombo. Nós gostávamos dele. Nos trazia presentes e acreditava em tudo. E lá se ia com sua mala mágica a vender em outras paragens. Mas sempre voltando e nos divertindo.

    Mas amigão mesmo era seu Magnus, mascate como o Lua Cheia, mas inteligente. Meu pai gostava de conversar com ele. Falavam de coisas que nunca entendi. A coisa mais bacana que o seu Magnus trouxe foi um rádio de pilha. Vinha gente de longe para ver a maravilha do século. Mais roncava que falava, mas foi um sucesso.

    Foram tantos os amigos. Ozy era ligado lá em casa. O mocinho bacana que as garotas disputavam. Outra grande pessoa em nossas vidas, Padre Thomas. Passava dias conosco, rezava a missa e nos dava a comunhão. Velhos amigos, ele e papai, ficavam horas falando de tudo.

    A festa mais comemorada lá era São João. A fogueira, uma semana antes preparada, as sortes, as coisas boas...Ah...E os tiros de pistola. Cada um tinha que dar um, por menor que fosse. Eu tinha um medo danado, mas o jeito era apertar o gatilho. Depois o concurso do melhor atirador que, com certeza, nunca fui eu. Estava sempre de olho fechado na hora da pontaria. Festa de São João como aquelas, nunca mais. A gente cresce e as coisas boas ficam para trás. O mundo é visto com outros olhos quando se é criança. A gente vive. Intensamente. Sem problemas, sem pensar em nada.

    Antes de meu pai morrer, pouco antes, Padre Thomas foi vê-lo. Conversaram longamente com a porta fechada. Nosso querido Padre Thomas era amigo da gente pequena e nós o adorávamos como a um Deus. Numa manhã de junho meu pai morreu. Até então eu nunca me havia dado conta da morte. Morte era para mim dia bonito, cheio de gente em casa. Morávamos perto do cemitério. Sempre moro perto de um, é a minha sina até hoje. No dia de Finados, as amigas de mamãe iam de véspera e faziam lindas braçadas de flores. Eram tantas que enchiam nossa área. Todo mundo ia levar uma flor para alguém. Nós, até ali, não tínhamos perdido ninguém. Uma flor para um amigo, nada mais. Eu achava aquilo lindo e ficava triste quando o dia acabava e as pessoas iam embora. Morte era flor, amigos se encontrando e um dia alegre. Mas aí foi diferente. Papai se foi, calmo e tranqüilo2. Eu vi. Acho que viveu feliz. Nossa casa era alegre. Acabou tudo. Nós ficamos tristes. Nossa mãe ficou mais calada. Tomou conta dos negócios.

    Éramos pobres. Papai não cobrava de quem era pobre e como a maioria era, só ficou nossa casa e um campinho, onde plantávamos para viver. Nossas irmãs mais velhas foram morar com as tias na cidade. E ficamos nós, Maria, Tila, Cláudio, nossa mãe e eu. Ficou também o Francisco. Mas o seu pão perdeu o sabor. Suas serestas calaram.

    Passaram-se três anos. Estudávamos com nossa irmã que lecionava para os garotos da vizinhança. Nossos passeios se limitaram a colher pitangas, tomar banho no rio e brincar por perto. Não longe, como as acampadas no campo. Até a festa de São João acabou. Se foram os montes de laranja e os sacos enormes de açúcar.

    Um dia minha mãe adoeceu. E se foi também3. Era primavera. Outubro. Para mim ficou tudo amarelado. Eu via tudo feito outono. Não gosto de amarelo, nem de outono. Aí desmoronou tudo. Cada um foi para um lado. E viveu como pode ou como deu.

    Helena Stein Leitão (Brasília - 12/12/1971)

    Foto depois da morte do Dr. Bartholomeu - Lieta, Flávia e Helena 
    Foto depois da morte de Doralice - Helena (em uniforme do colégio interno, Maria Eugênia, Flávia, Lieta e na frente Cláudio. Falta Sylvia Donatilla que estava morando com a Tia Palmira


    Foto do mesmo dia, cedida pelo Carlos Eugênio Garcia. Na foto também Ozzy Pires Garcia

    1Nas visitas dos primos do Colégio Militar não fazíamos feio. Carlos, Adolpho e Ruy, filhos da tia Julieta, irmã da mãe, nos visitavam todos os verões. Era uma festa a chegada dos guris da tia Julieta, recebidos com alegria e muito carinho por todos nós. (notas da Flavia Stein Garcia)

    2Papai recebeu os Santos Sacramentos em 26 de maio de 1934, das mãos de seu amigo Padre Carlos Thomás Braggi, Vigário de Rio Pardo e faleceu no dia 15 de junho de 1934 às 11 horas da manhã, em sua residência no Capivari, 5º Distrito de Rio Pardo. Está enterrado no Cemitério dos Francos. Faleceu com 63 anos, 5 meses e 25 dias (notas da Flavia Stein Garcia).

    3Nossa querida mãe faleceu dia 13 de outubro de 1937, no Capivari. Tinha 41 anos de idade. Faleceu de septicemia. (notas da Flavia Stein Garcia)



    Furacão

    Depois do Furacão que entrou em nosso lar em forma de separação, começaram novos rumos em nossas vidas. Tia Palmira (irmã de Doralice) e tio Costa nos acolheram com carinho e dedicação, procurando amenizar nossas cabecinhas confusas, lavando um pouco a saudade e o espaço vazio que ficou. Maria, Tila, Cláudio e eu ficamos com eles até resolverem sobre nossos destinos. Lia continuou no Rio com tia Julieta e os meninos. Flávia, que havia terminado os estudos em Passo Fundo, na Escola Complementar, na casa da tia Helena, irmã do pai, veio em seguida nos acudir, mas como nada possuía, só um diploma e uma enorme, louca vontade de pôr os irmãozinhos ao seguro, foi lecionar em Tupanciretã, numa fazenda. Sempre pensando em como resolver nossa educação, como arranjar um lar onde ficássemos juntos. Seu sonho não pode ser realizado. Na época, sem recursos financeiros, sem ajuda de ninguém, não deu. Assim meus tios Costa e Palmira resolveram mandar cada um de nós para alguém tomar conta. Maria, Cláudio e eu fomos morar com o tio Anaurelino (irmão de Doralice), um senhor muito severo e sovina que não nos deixava brincar, nem nos mandou para o colégio. Éramos duas crianças, antes, soltas, alegres. Nosso lar seguro, farto, cheio de paz...Agora, como cachorrinhos acuados, um dia fugimos para a casa de tia Maria (irmã de Doralice). Lá encontramos carinho e o colinho que estávamos precisando. Eis que não durou muito, pois alguém veio nos buscar, isto é, levou o Cláudio para a casa do tio Osvaldo (irmão de Doralice). Eu fiquei lá, perdida, atônita, sabendo que eu também ia para um outro lugar...Onde? Tia Maria, irmã da mãe, era muito pobre, tão pobre que não podia ficar conosco. Eu queria ficar com ela pois era um lar quentinho, tinha carinho, colinho, caminha quentinha. Ela vinha tapar a gente e dar beijinho, dizia “Dorme, meu anjo” -Era tão bom! Oscar e Rafael, os filhos de tia Maria, davam uma ajuda para ela. Levavam caramelo e gostavam da gente. E queriam que eu ficasse com eles.

    A Tila ficou morando com os tios Costa e Palmira. Era muito feliz, estudava, tinha roupas novas e bonitas. Tinha um lar. A Flávia casou com o Ozy Garcia e levou o Cláudio para junto dela. A Maria arrumou um emprego de professora municipal e foi para o Capivari, pois o tio Anaurelino não queria ninguém com ele.

    Resolveram o que seria de mim. Tinha que estudar e me colocaram num colégio interno. Aí começou o meu calvário. As freiras eram más. Judiavam da gente. Humilhavam e tratavam como empregadas. Tínhamos que varrer as salas de aula, lavar roupa, lavar o chão e se não estava ao gosto, xingavam e botavam de castigo. O castigo era na sala de aula. Eu ficava de costas para as colegas e a professora dizia: “Helena é uma vadia, relaxada, porca e burra. Vocês têm que ser caprichosas. É feio uma menina relaxada “. Eu pensava: Será que essa freira não morre nunca? Que vontade de xingar: Freira feia, burra, velha “mas eu pensava: se digo tudo isso, ela me bota pra rua, aí onde vou ficar? Não tenho dinheiro, nem ninguém por mim.”Aí chorava...

    Nas férias as meninas saíam e eu ficava. A Nilza, uma colega como eu, ficava também. Um dia a Flávia veio me buscar para morar com ela. Começou uma nova aurora. Meio desconfiada, temendo um novo desencanto, lá fui eu, mais Ozy e Paulo Clóvis, morar em Cachoeira do Sul. Foram bons tempos, apagando ternamente um amargurado tempo de minha juventude. Quatorze anos tinha eu. Foram quatro anos de amargura, sofrimento e desamparo. Desamparo esse que sinto até hoje. Sempre parece que nada me pertence. Sempre virá alguém para resolver meu Destino, minha vida.



    Helena Stein Leitão - Porto Alegre, 27/09/1987
    .

    PRIMEIRAS LEMBRANÇAS DE MARIA EUGENIA DA SILVA STEIN


    Maria Eugênia da Silva Stein em foto de Carlos de Paula Couto
    Maria Eugênia da Silva Stein é filha de Bartholomeu e Doralice Stein e neta de Nicolau Stein
    (Digitadas pela Íris Garcia Bassani)


    Minhas primeiras lembranças são de Dom Pedrito: o Ford do pai sempre caindo nos valos, na beira da estrada, os guris da tia Helena e depois os ciganos roubando as gavetas de marmelada, mais tarde a Ricardinha. Dona Rosalina, Dr. Cristiano Fischer e seu filho Henrique. Comendo balas na rede com dona Rosalina, fazer cachinhos de cabelos para Ricardinha. Recordo também uma mudança, só não sei para onde, os guris a cavalo e nós em outra condução, devia ser carreta. As noites passadas no Uruguai no rancho, a venda do seu Torquato Severo. De Cruz Alta só me recordo de brincar com a Ruth. Da fineza da casa da tia Palmira. Depois Porto Alegre, vagas recordações da Sebastião Leão, Carlinhos parecia que tinha madrasta má. A chácara da tia Julieta é rica de recordações: a casa os plátanos, as folhas caíam todas, eu achava triste. As vacas, a Negucha, o pasto. Lá foi meu primeiro natal, ganhamos bonecas, eram lindas, Tila, Flávia e eu. A da Flávia chamava-se Nair e viveu muitos anos. Veio até a Boa Fé e seu aniversário era comemorado todos os anos. A Helena ganhou uma corrente de prata e uma medalha de Santa Terezinha, a Lia eu não lembro o que ganhou e nem os guris, mudança das bonecas, a da Tila esmagada com um tijolo, ela tinha vestido verde ou azul. Lá se brincava, comia, atrás um córrego para mim era um arroio grande.

    Em Porto Alegre, o medo que se passava de noite, o pai e a mãe iam para o teatro ou cinema e nós ficávamos com a Donana e o seu Elísio, um casal de italianos que moravam na ilha da Pintada. Me lembro, também, do Lauro com tifo. Recordo a doença da tia Helena, sarampo, ela mal, nós também com sarampo, a Flávia e eu e ninguém nos dava bola. Trepávamos na janela e apanhávamos peras verdes e comíamos. Abafadas com acolchoados de pena e a Flávia dizia: Maria vai na cozinha e traz comida para nós, as vezes eu ia, não me lembro de alguém ter me visto. O Café Economia Doméstica bem na frente e a casa do La Costa, como eu achava linda e sonhava com uma parecida, a nossa era bem humilde.
    Depois o Colégio Sevigné, longe, mas tinha uma coisa boa, a venda do seu Pires, Armazém Pires, onde comprávamos chocolate, refeição e bolos de frutas. Lembro o Silvio sempre arteiro, uma vez encheu de bombinhas uma lata, botou uma brasa e atou no rabo de um cachorro que vivia incomodando e o coitado lá se foi desesperado, mas a gurizada gostou e achou o máximo.


    Recordo a doença do tio Osvaldo, o pai e a mãe foram para lá e nós ficamos com a Donana, como ele custou a ficar bom! Era pneumonia dupla e naquele tempo era passagem certa para outra vida, mas ele não foi!


    Mas antes disso o batizado da Helena, toda de branco, uma roupa linda, linda com rendas e babados e sapatos de pelica e no mesmo dia o batizado da Tila e o meu. Nós de vestidinhos de seda verde com enfeites de floresinhas aplicadas e chapéu de palhinha de seda bege nós achamos lindas. Padrinhos da Helena, tio Osvaldo e tia Elsa, da Tila, Dr.Augusto Becker e D.Josefina. Meus padrinhos, Carlos de Paula Couto e Julieta Silva. Acho que no mesmo dia 5 de setembro de 1926, primeira comunhão de Juca, Silvio, Lia e Flávia, elas de vestido longo, véu e grinalda, tudo branco e eles de roupa branca, Juca de calça comprida, acho que preta e Silvio de calça curta e camisa branca. Houve festa lá na chácara. Lembro que a mãe era magrinha e tinha um ar triste. Lembro a convalescença do Lauro.
    Depois a mudança para Butiá. Lembro do pai falando com a mãe que nós iríamos para Butiá, que o Dr.Fernando Schneider ia se casar com Matilde, e ele ficaria por seis meses substituindo-o. O Silvio resolveu ficar, estava no colégio e devia ser meio do ano, então ele ficou na casa do padrinho dele, Alfredo Rodrigues da Fonseca, o Juca também ficou, acho que na tia Julieta, mas nas férias o Juca foi para Butiá. O Silvio resolveu se empregar com o padrinho dele. Acho que tinha uma casa de negócios ou tipografia (Erico Peixoto Fonseca), não sei e até o nome dele esqueci.
    A viagem para Butiá foi de trem, nós adoramos, veio a cabrita que dava leite para a Helena, nós gostávamos do restinho, era grosso o leite e gostoso.


    Não me lembro da chegada em casa, só depois que estávamos morando, perto do seu Quincas Saraiva e da dona Mariquinhas. Ao lado moravam seu Darcy Tavares, um homem solteiro. Perto da nossa casa tinha uma pensão do seu Alcides Contes e Adelaide sua filha, era nossa amiga, mais velha que nós. Saíamos todos os meio dia com uma jarra buscar vinho tinto lá. O pai não almoçava sem vinho, nós tomávamos, mas com água e açúcar. Os pais de dona Mariquinhas moravam na fazenda nas proximidades, às vezes a mãe e ela resolviam ir lá e nos levavam a pé e tinha boi brabo no caminho, então elas abriam e fechavam as sombrinhas para fazerem os bichos dispararem e nós podíamos continuar a caminhada.


    Lá perto tinha o seu Gogota e a dona Ely e dois filhos, mas com quem nós gostávamos de brincar era com o Rony, um gurizinho de cabelos em cachos loiros, mas só em imaginação, porque não me lembro de algum dia ter brincado com ele. Gostava muito das cacimbinhas, buraquinhos cheios de água no meio do campo, e adorava o cheiro do carvão queimado.


    Um dia fomos com a Adelaide até o poço da mina e depois descemos até o fundo, me lembro que os mineiros nos recomendavam que não nos encostássemos nos fios que eram desencapados e mataram muitos mineiros Era uma caixa preta o tal "elevador".


    Lá vi o primeiro morto, o Leandro, nosso amigo mineiro. Um dia vi uma gaiola e dentro já se sabia, um morto, mas nunca tinha visto um de perto.


    Adelaide veio nos convidar para passear, nós costumávamos ir para um enorme açude e andar de "trole" e no fim derrubávamos o dito para dentro do açude, mas naquele dia o passeio foi outro; ela disse, o Leandro morreu, mas nós não queríamos acreditar, ele não podia morrer. Ela disse eu vou levar vocês lá. Numa casinha humilde em cima de quatro cadeiras de palhinha estava sendo velado o nosso grande amigo, que tristeza. Nunca pude esquecer. Chegamos em casa apavoradas: "mãe o Leandro morreu". Não, de onde vocês tiraram isto? Nós fomos lá mãe, nós vimos o Leandro morto, preto. A Adelaide nos levou. A Adelaide é louca, levar vocês lá! Naquela noite não dormimos e nunca mais esqueci aquela tristeza.


    E o Darcy o pai não nos proibia de falar com ele, de longe, e não havia lá estes cuidados. O Francisco véio era um seresteiro incrível, só pensava em tocar violão. Era tudo, cozinheiro, fazia tudo, quando menos se esperava estava tudo em festa!




    Tempos depois de nossa mudança ele ficou em Butiá e também os guris. Juca, no seu Serapião Pedroso e o Silvio que havia vindo de Porto Alegre, no escritório da Cooperativa Carbonífera. Francisco casou com a viúva de um mineiro, a dona Alvina, meio branca, baixinha, cabelo meio ruim, cheia de coisas, não tiveram filhos.Ela era bem mais velha que ele, nunca vi mais caprichosa!


    Lá em Butiá tinha um guri que gostava de andar nos montes de lixo procurando alguma coisa, resolvi mexer sempre com ele. Quando ele aparecia eu gritava: "come mosca", o guri me atirava pedras. Então mudei o estribilho: "come mosca atira pedra e não acerta", meio cantando. Ele ficava furioso, e o meu canto era acompanhado de pequenas pedrinhas. Um dia eu mexi com ele e corri para dentro do quarto dos guris, mas a Lia e a Flávia ficaram dando cobertura, vem para dentro Maria. Eu fui, mas resolvi dar uma espiada na situação, foi quando veio pelos ares uma metade de tijolo bateu na porta e veio direto na minha cabeça e enterrou! Eu que não gostava quase de chorar, abri o berrador e fui contar para a mãe, ela mandou me levar no consultório do pai. Depois me lembro do pai na janela comigo e cada guri que passava ele perguntava: foi este? Mas não era e eu nunca mais vi o come mosca!
    Lembro de um raio que caiu na frente do altar de Santa Terezinha.
    Lembro muito do Ruy Pedroso era o namorado preferido das filhas do seu Florentino Gonzales, um fazendeiro rico que havia lá. Eram muito lindas as filhas dele, Aurora, Maria e Grandiosa. Gostavam de andar a cavalo, e vestiam sempre veludo, eu as achava lindas. Dividia o nosso pátio com o do seu Darcy Tavares, uma cerca de madeira. Eu gostava de subir na mesma, sentava em cima e com um ferro batia nas unhas dos pés e pensava, será que vai doer mais? E continuava a bater, ao cabo daquela festa as coitadas caiam mesmo, e aí é que doíam.


    Uma ocasião a mãe ia a Porto Alegre com o pai e uma de nós, então ela disse: vai a Maria, eu fiquei ufana! Mas na hora de por os sapatos, que tristeza! Sem unhas não dava, e chorei, chorei, quem foi junto foi a Flávia.


    Parar na casa da tia Julieta era o máximo, tudo fino e eu gostava. Nesta ocasião nós ficamos com a Lia, era uma moça, onze anos, já costurava e tomava conta da turma miúda. Adelaide tinha noivo, o Delíbio, uma pessoa que mudou o nosso destino. Ele era funcionário da Cooperativa Carbonífera e parava na pensão do seu Alcides, pai de Adelaide. Enquanto nos estávamos em Porto Alegre, o pai parava na pensão e daí vem o conhecimento com o Delíbio, que era do Capivari.


    Contava, além das belezas do lugar, e que não tinha médico, e um dia eu me lembro o pai viajou a cavalo para o Capivari em companhia do Delíbio. Passou alguns dias na casa do seu Feliciano “Nota Grande”, um tremendo fanfarrão: a esposa dele, a Cordolina, era irmã do Delíbio, e o pai voltou entusiasmado. Era o paraíso terrestre, um lugar belíssimo, e disse para a mãe: só o que eu tenho medo é que os chupões vão devorar as crianças!


    Aquilo me apavorou! A mãe ficou muito triste por causa da mudança. Ela nascida e criada em Porto Alegre, com a mãe e irmãos e o resto da família lá, naturalmente não desejava ir para outro lugar. Mas lá em Porto Alegre quando viemos para Butiá ficaram nossas coisas todas, até nossos brinquedos, livros, móveis tudo.


    Eu sentia falta da roupa de formatura do pai: uma capinha verde com arminho branco, a toga, uma gravata de renda, nós gostávamos de brincar com tudo e também com os vestidos longos da mãe, e a pele de raposa com olhos e tudo, nós adorávamos, mas esta veio. Lá ficou nossa casa na Sebastião Leão, que em 1933 foi vendida.


    Nunca mais nos encontramos com tudo que lá ficou, mas que a lembrança guarda. Me lembro que nós gostávamos de assustar a Helena com os olhos da raposa, ela chorava e a mãe acudia.


    Chegada em Capivari, novos rumos na vida. Num dia frio e chuvoso, cinzento. Chegou em Butiá um caminhão e um homem feio, feio, era o motorista. Era o dia de nossa mudança. Viajamos, viajamos uma estrada horrível e nós com medo dos "chupões”... até que chegamos, o caminhão parou e o pai disse: é aqui! A mãe falou: tu estás brincando! Mas era ali mesmo, uma casa humilde de alvenaria, uma chácara, mato em volta. Um homem nos esperava, com vaca de leite e lenha para o fogão e tudo o mais que se precisasse.Era o seu Romeu. A casa não tinha assoalho e nem vidro nas janelas, era uma coisa horrível. Nunca havíamos morado numa casa assim e eu achei horrível. Ficamos algum tempo dentro da casa. E os chupões?


    Depois fez sol e fomos indo devagar para fora. Resolvemos fazer carnaval com as bonecas. Daí a pouco apareceu um bicho preto desconhecido para nós, matamos e levamos para exame pelo pai. "Onde acharam isso, é um chupão, morde a gente!”. Aquilo era o chupão! Não, não precisava ter medo, era pequeno e fácil de matar, não morreria ninguém.
    Dai para frente não tinha mais nada que atacasse a pesquisa nos arredores. Primeiro foi um poço, barreiro, e havia uma gamela e também tínhamos um bacião que foi logo transformado em caíque,começaram os primeiros banhos de sanga, porque os outros foram no arroio Capivari,Passo Novo e depois Três Pontes.


    Tinha um batelão. Caíque grande feito de uma madeira só, nele nós navegávamos felizes, até que se ouvia: "êra boi"...e achando ser tropa, nos atirávamos na água e corríamos para casa encharcados.


    Nesta casa moramos meio ano.


    Nos mudamos para a fazenda Boa Fé, uma casa sede da fazenda, casa boa toda assoalhada, envidraçada, linda. Com mangueiras e galpões, e histórias de assombros. Tinha o quarto do seu Batista, para nós um lobisomem! Sempre de capa preta e com um filho doente, que ele maltratava. Nós nunca passávamos daquele lado, nossas artes eram nos outros três lados.


    Estavam, também, na Boa Fé o Juca e o Francisco. Nas férias vieram os filhos da tia Julieta, Carlos e Adolfo, era casa alegre e movimentada. Na frente o pai fez a sala dele e logo ao lado, a farmácia.


    Nossa casa vivia cheia de gente. Perto morava um casal de preto, o Chico e a Vicentina, com cinco filhos. Recordo o dia que a Vicentina veio lá em casa, mal vestida e com muito frio e fome, perguntando se tinha serviço. Ela contou que o marido era paralítico e que ela tinha cinco filhos para criar; bem, daquele dia em diante ela ficou nossa, o pai tratava o Chico, e ela lavava e fazia outros serviços lá em casa. Os filhos brincavam conosco; o sustento deles corria por conta do pai e depois da mãe até ela falecer, então a Vicentina foi para Rio Pardo com os filhos já grandes e criados. Eu os ensinei a ler e escrever e as quatro operações, eles estão por ai, bem.


    Vamos as artes mais lembradas.


    A Julieta, filha mais velha da Vicentina, negrinha retinta, com uns dez anos, era uma boba, fazíamos um monte de areia espetávamos uma pazinha de madeira e dizíamos:"olha Julieta, se tu quiseres conseguir algo, pensa no que tu queres e dá três suspiros com a boca aberta e os olhos fechados em cima deste monte de areia". Ela, mais que depressa, obedecia e então nós pisávamos na pá e ela ficava com a boca cheia de terra."É, tu não fizeste direito, faz de novo".


    Numa ocasião, achamos uma caixa preta com uns enfeites dourados, achamos linda e resolvemos fazer um armário daquele belo achado. Instalamos o dito cujo perto de uma pedra onde nós sempre brincávamos e enchemos de guloseimas, felizes da vida com aquele belo móvel.Numa dessas o pai aparece por lá."O que é isto? De onde vocês tiraram? É um caixão de defunto". Nossa, que susto e que confusão! Jogamos tudo longe e nos metemos dentro de casa.
    À noite, nos serões, o Francisco contava histórias de assombro e nós achávamos que o dono viria nos tirar a limpo por ter utilizado o seu caixão.


    Como se chamava o pai durante a noite! Ele sempre atendia.
    Subíamos na cerca da mangueira e atirávamos tições acessos no gado que encerravam na mangueira!


    Dos ovos de curruiras, que achávamos nos buracos da madeira da cerca, nós fazíamos pães para as bonecas. Uma vez achamos uma perdiz morta e assamos, não sei se comemos, acho que não!


    Andava lá pela Boa Fé, uma enorme porca do Feliciano “Nota Grande”, e o pai disse: esta porca vem de um açougue, ela gosta de comer carne, não cheguem perto dela, porque ela pode comer vocês! Uma vez eu e a Flávia estávamos brincando e ouvimos um grito da porca perto de nós e não conseguimos subir na pedra que brincávamos, então saímos correndo com a porca em nosso encalço, descemos todo o morro e na estiva, perto do Passo Novo, nos atolamos, era atolador só! Nossos sapatos lá ficaram. Saímos correndo morro acima. Na estiva a porca não passou e subimos por outro lado. Quando chegamos em casa já tinham dado por nossa falta, mas não imaginavam o que tinha acontecido. A porca foi mandada embora, e continuaram nossos brinquedos felizes.
    O certo: na chegada da estiva, corria junto com a porca uma cabrita que era nossa, a Alfazema, e esta deu uma cabeçada na porca e, enquanto ela se equilibrava, nós corremos mais e mais.


    Navegamos em seco com escadas deitadas no capim e os remos eram nossos braços, descíamos a lomba e subíamos com a escada nas costas, e recomeçava tudo outra vez.




    Eram clientes do pai o seu Xavier e família. Uma ocasião houve umas carreiras, no potreiro, abaixo da Boa Fé, e nós fomos, a família do Xavier também. Nós tínhamos um amigo, o Nazico, ele namorava uma das filhas do Xavier, a Rosalina. Nas carreiras o DIDI, filho deles disse: "olha lá Savica (Rosalina), onde está o antipático do Nazico!". E nós pensamos vamos dar uma surra nesse guri! Mas ele não se desgrudava da mãe dele, ai eu chamei, Didi vamos brincar? Ele veio feliz da vida. “Olha, o brinquedo é assim: pula por cima deste buraco”. Quando o guri pulou pela terceira ou quarta vez eu peguei na perna dele e derrubei, a Lia sentou nas costas dele, a Flávia nas pernas e eu batia. Quando parou a surra nós dissemos: se tu contares para a tua mãe a surra vai ser dobrada! Ele nunca contou, mas nunca mais foi na Boa Fé. A mãe dele dizia: Dona Dora, não sei o que o Didi tem, ele gostava de vir aqui, agora não tem jeito de vir, quando eu falo de vir ele se esconde! Mas nós sabíamos! A nossa mãe, não!


    Foi na Boa Fé que um cavalo me deu um coice, mas não acertou bem. Eu estava no cavalo com a Lia e ela resolveu dar uma chicotada em um cavalo que estava no campo e ele nos largou as duas patas.


    Após algum tempo, a fazenda foi vendida e tivemos que nos mudar para um "ranchão" que havia no potreiro, enquanto o pai construía a nossa casa. A mãe já estava esperando o Cláudio, mas eu nunca vi nada. Fomos para o "ranchão" era tudo o que o nome dizia, na frente tinha uma bela amoreira e atrás um arvoredo. Como brincamos neste lugar! Ficamos mais perto da Vicentina e as negrinhas nos faziam companhia nas artes. Nesta época já sabíamos andar a cavalo e pescar, largar a linha na água, peixes, nunca!




    Para Boa Fé foi o seu Ademar Azambuja, casou com dona Fábia Figueiredo Azambuja, prima dele.


    Uma noite lá no ranchão, o pai veio nos acordar: "olhem, lá no quarto tem um gurizinho que os ciganos trouxeram, eles alcançaram naquela janela” (1). Nós vimos as marcas dos pés do cigano! Queríamos muito era ver o tacho em que os bebes eram feitos... Passado algum tempo, nossa casa ficou pronta e nos mudamos para lá, era perto. Logo após, foi a Vicentina, morar no nosso campo, onde ficou até o fim de nossa casa.


    Uma ocasião enquanto morávamos na chácara, primeira residência, aparecia sempre por lá o Juquita, irmão do Guy, primo do Panta. Era brincalhão como só ele. Eu tinha muito medo de sarna e um dia ele inventou que o Xavier tinha sarna e que tinha sentado em todas as cadeiras lá de casa! O pai estava desencaixotando uns remédios, com o seu Arlindo Rocha, um amigo dele, e pedi: o senhor me dá esta caixa verde? Para que tu queres? Eu quero para sentar, porque o Juquita disse que o Xavier tem sarna e que sentou em todas as cadeiras. Consegui a "caixa verde", e não podia largar porque o Juquita disse que se eu largasse as gurias sentariam e elas tinham sentado nas cadeiras, ficaria tudo contaminado.
    Neste meio tempo houve um baile no Xavier e nós fomos com nossos pais. O Juquita namorava a Rosalina, filha do Xavier, também foi. Deixei a caixa em casa e planejava sentar no colo da mãe, mas tinha a Tila e a Helena e pouco colo sobrou.


    Mais tarde, o pai e a mãe foram dançar e nós ali caindo de sono e cansaço, eis que o pai pediu para a Refina que nos arrumasse uma cama. Ela muito gentil nos arrumou a cama dela e do Xavier para nos deitarmos! As gurias foram e eu fiquei, dizendo que não tinha sono, mas caindo aos pedaços! Ela disse para o pai que as outras já tinham ido e que eu não queria ir, o pai veio e me obrigou a deitar. Eu levantei as pernas e os braços, para o lençol não encostar em mim e berrava. Ela veio e perguntou o que eu tinha? "Eu não quero deitar nesta cama, o Juquita disse que o Xavier tem sarna!” "Não minha filha, isto é bobagem do Juquita!” Chorei, chorei e dormi na cama do Xavier! Não precisei mais andar com a caixa verde... já estava ficando de pescoço grosso.
    Ano de 1929. Nossa casa. Uma casa grande, com enorme área na frente, bons quartos, quatro, grande cozinha, varanda enorme, farmácia, consultório, galpão, forno para pão e assados, arvoredo, eucaliptos, e mais importante de tudo, era a nossa casa! Janelas envidraçadas, assoalhada, forrada, limpa cheirosa, e alegre, muito alegre.
    O pai nos ensinava tudo, inclusive a admirar tudo o que era belo, uma planta, uma flor, um passarinho cantando, um córrego tudo! Agradeço a Deus, tudo que nos dava. Que santa sabedoria! Nos tirou na hora certa do meio da maldade do mundo e nos transportou para o nosso "paraíso terrestre!”. Ali não tinha escola, aquela obrigação de levantar e sair, nossas aulas eram espontâneas, tudo era apreendido em casa, com ele. E que professor! Ensinava porque sabia, e não nos deixava conviver com qualquer um! Amigos não tínhamos, brincávamos com as irmãs e as negrinhas da Vicentina, que já se criaram ali conosco. Vivemos, brincamos e aprendemos de tudo no misterioso de nosso belo e maravilhoso lar. Não desejávamos mais nada, tudo nos alegrava. Nossa vida era feliz...


    1 Nota do Carlos: suponho que foi quando o Tio Cláudio nasceu.

    Maria Eugênia Stein

    Maria Eugênia Stein

    segunda-feira, 17 de julho de 2017

    Ignácio e Helena Stoll e filhos

    Marido Ignácio Frederico Stoll

    Nascimento Jan. 8, 1877 Sao Leopoldo
    Profissão Professor
    Casamento Set. 28, 1907 Porto Alegre
    Morte 1968 Porto Alegre, Rio Grande do Sul
    Pais José Stoll e Luiza Allgayer (Friedrich Kasemir1)

    Esposa Helena Stein

    Nascimento Ago. 18, 1888 Sao Leopoldo
    Casamento Set. 28, 1907 Porto Alegre
    Morte 1965 Porto Alegre, Rio Grande do Sul
    Pais Nicolau Stein1 (Mathias Josef3, Caspar2, Johann1) e Anna Maria Stein (Matthias Josef3, Johan Eberhard2, Bartholomäus 1)

    Casamento de Helena Stein e Ignácio Stoll em 28/9/1907 em Porto Alegre

    Helena Stein Stoll foto tratada com app Remini e Colorize

    Filhos

    1 Maria Lourdes Stoll
    Sexo Feminino
    Nascimento Ago. 12, 1908 Sao Leopoldo
    Marido Antonio José Herzer
    Casamento Desconhecido
    Morte Jun. 1993 Porto Alegre, Rio Grande do
    Enterro Cemitério Santa Casa Porto Alegre RS

    Maria Luiza, Maria de Lourdes e Lauro Stein Stoll


    Lauro Stein Stoll
    Sexo Masculino
    Nascimento Out. 27, 1910
    Profissão Militar
    Esposa Olga Piquet
    Casamento Desconhecido
    Morte Jun. 21, 1983 Rio de Janeiro
    Lauro Stein


    3 Maria Luiza Stein Stoll
    Sexo Feminino
    Nascimento Ago. 19, 1912 Sao Leopoldo
    Marido Valentim Nardi
    Casamento Desconhecido
    Morte Jul. 1, 2010 Porto Alegre, Rio Grande do
    Enterro Cemitério Santa Casa Porto Alegre RS

    Luiza Stoll


    Observações sobre Maria Luiza Stein Stoll
    Ela era filha de minha madrinha e mãe do Jose Inácio e do Lauro Valentim    Quando parava em uma pensão aqui em POA, antes de ir para Nóia, eu me refugiava na casa deles quando ficava meio carente. Morava na Rua Amélia   Teles ali perto da João Abbot, no fim da linha do bonde, numa casa branca e muito linda. Ainda era vivo o Meu padrinho Inácio, que me mostrava uma bengala e dizia que era para ,cic - Arrebentar as guampas de algum ladrão. Depois a minha madrinha me dizia - Não é nada disto é para procurar o pinico em baixo da cama!!         Um beijo    Eng. Flávio Garcia    

    Helena Stoll e Luiza

    Helena Stein Stoll

    Helena Stein Stoll e Luiza

    Lucinha, Tio Ignácio e Tia Helena